Mitos e psicanálise
O mito é um relato fabuloso das tradições passadas oralmente de geração para geração, geralmente protagonizados por seres que encarnam, de forma simbólica as forças da natureza e os aspectos mais gerais da condição humana. Também é a narrativa de tempos heróicos que em geral guardam algo de verdade. Os mitos tentam explicar os fenômenos da natureza, serviam também para estimular e encorajar as pessoas para várias atividades como: a caça, a guerra, ou para algum ritual sagrado.
Os mitos tem o poder de transformar homens simples em grandes heróis, ações do dia-a-dia em incríveis jornadas.
“Os mitos são o nada que representam o tudo”. A Freud e a psicanálise vão buscar na mitologia Grega modelos que organizam descrições teóricas que sustentem imagisticamente hipóteses que permitem articulações com os fenômenos clínicos e assegurem constructos para a investigação metapsicológica. Freud já dizia que a mitologia era uma das matérias essencial para a formação de um psicanalista. A mitologia vai edificar a ciência do inconsciente. Os mitos auxiliam o indivíduo sobre sua origem e o lugar que se ocupa na terra através de uma mitologia pessoal. É uma construção pessoal, interna do sujeito.
O artigo que lemos em aula: Psicanálise e mitologia grega, trazem alguns dos mitos que foram usados pela psicanálise:
Mito fundamental, e, ou, Complexo de Édipo: Freud baseou-se na tragédia, Édipo Rei, para formular o conceito do Complexo de Édipo, a preferência velada do filho pela mãe, acompanhada de uma aversão clara pelo pai. O complexo de Electra tem o mesmo sentido do Édipo.
Mito do falo e da castração: Conta a história de Urano, um pai poderoso, mas cruel que devora os filhos que tem com Géa a terra. Segundo Freud a castração é o que organiza nossa identidade sexual e também o falo é organizador da sexualidade. O medo da castração faz com que o menino renuncie o amor da mãe e desta forma vá procurar outra mulher para ele. Nas meninas, o complexo da castração apresenta-se pela falta anatômica de um órgão externo como o dos meninos. Assim, seu complexo se lança na resolução de seus sentimentos edípicos deixando de amar a mãe (igual a ela) para ir à busca de um amor como o pai (diferente dela).
O mito da horda primitiva: é uma metáfora que Freud usa para explicar como ocorre o primeiro contato social, ou justiça social. Os filhos devem criar a comunidade de irmãos. Estes devem ser iguais em direitos e solidários na distribuição das mulheres e na criação das leis. No mito, os filhos devoram ritualmente o corpo do pai tornando todos iguais e assim cria-se a sociedade.
Mitos das protofantasias: Fala que o mundo, o ser humano e a vida têm origem e sua história no sobrenatural, que é preciosa e exemplar. “o individuo evoca a presença dos personagens dos mitos e torna-se contemporâneo deles”.
O mito da Cena primária: céu e terra se conjugam em um abraço amoroso. Para a psicanálise, a cena primária é o pai e a mãe no ato amoroso que nos gerou. As fantasias infantis irão contribuir para a constituição de aspectos do psiquismo infantil e da organização das neuroses.
O Mito do Narciso: como “sua majestade o bebê” o narciso é todo em si mesmo. A pessoa fica “presa” no narcisismo primário, onde o EU se confunde com o próprio mundo.
O Mito da Pulsão: pulsão é força imperiosa e pulsante. Inquieto e inquietante. É a força viva que nos habita e faz viver.
O Mito de Eros: Freud considera o mito de Eros como o principal adversário da necessidade. Eros é um belo Deus, caprichoso, porém vingativo e poderoso. O Deus que tudo une. O governante único das pulsões de vida e do Eu, tendo que se defrontar com seu complemento, a morte.
O Mito da Morte (tânatos): É um mito poderoso, a morte irmã do sono e rainha do esquecimento. Uma luta entre Eros e Tânatos. A morte é para a psicanálise a pulsão silenciosa ecoando em todo ato da vida. A pulsão de morte é também a grande responsável pela neurose do destino.
O Mito do Inconsciente: o inconsciente é atemporal, invisível, onipresente e arquipotente. Teia todas as relações inter, intra e transpessoais. Assim como o sonho o inconsciente é ferramenta para a compreensão da matéria que nos forma. É através da mitologia que tentamos compreender a psique humana. Trata-se de usar uma linguagem representativa do pensamento arcaico.
A psicanálise deve muito à mitologia.
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